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terça-feira, 17 de novembro de 2009

UMBANDA EM REVISTA

Diamantino Fernandes Trindade


Desde que assumi, em 1986, o compromisso de resgatar a História da Umbanda, venho buscando por este Brasil afora, documentos para que a memória da nossa querida religião não seja corroída pelo esquecimento. Chegou às minhas mãos um lote de cinco números 79 de Umbanda em Revista: 79, 80, 82, 84 e 87 que foram agregados ao nosso acervo documental da Umbanda que já conta com o número 117.
Quero registrar a minha homenagem ao irmão Demétrio Domingues, presidente da Associação Paulista de Umbanda, desencarnado em 2007, que por treze anos publicou esse importante veiculo de divulgação, com periodicidade mensal, onde divulgava os principais eventos umbandistas brasileiros, além de possibilitar que outros irmãos pudessem se manifestar por meio de suas matérias.
Sobre Demétrio, Ronaldo Linares falou:

Demétrio Domingues foi meu companheiro de microfone por vários anos em meus programas: Umbanda em Marcha; Ronaldo fala de Umbanda; Momento de Prece.
Esteve comigo em meu programa da TV Bandeirantes (Programa Xênia Bier) e também na TV Gazeta.
E sempre tinha algo construtivo, positivo e com muito entusiasmo para estimular a família umbandista.
O grande cacique foi a alavanca mestra da Criação do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo. Foi dele a idéia de juntar as Federações então existentes, em uma instituição idônea, que pudesse cuidar da Umbanda Paulista. Foi ele que convenceu o então coronel Nelson Braga Moreira a assumir o comando do SOUESP.
Foi por suas mãos que me aproximei do SOUESP e, posteriormente fui nomeado pelo já então, Coronel Nelson Braga Moreira, porta-voz oficial do Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo.
Lembro ainda que a convite de Demétrio e do General Nelson Braga Moreira, recebi a incumbência de criar uma organização federativa no ABC paulista, foi assim que nasceu a Federação Umbandista do Grande ABC, organização que era um pouco “filha” de Demétrio.

O primeiro número de Umbanda em Revista foi publicado em abril de 1975 e trazia na capa a imagem de Jesus. Em março de 1982 foi publicado o número 84 comemorando os sete anos do periódico. No editorial Demétrio escreveu:

Amigos umbandistas, companheiros dese Exército Branco de Oxalá, o nosso sincero saravá.
Aqui estamos com mais um número de Umbanda em Revista, mais precisamente o número 84 o que totaliza 7 anos de circulação de nossa revista.
Foram 84 meses que a nossa revista esteve em suas mãos, sem falhar um mes sequer. Isto nos dá uma pontualidade britânica e nos envaidece, pois demonstra bem alto o espírito de luta de todos aqueles que fazem esta revista.
Não vamos nos detalhar em nossa revista, pois que outras páginas estarão mostrando o nosso trabalho feito para a divulgação da nossa querida Umbanda, vamos isto sim agradecer aqui em nosso editorial a todos aqueles que uma forma ou de outra nos deram sua colaboração para que o nosso sétimo aniversário pudesse ser uma realidade.
A Umbanda do Estado de São Paulo caminha a passos largos e estamos em plena evolução na sua organização, ainda este mes estaremos através do Superior Orgão de Umbanda e suas entidades federativas, promovendo o Terceiro Congresso Paulista de Umbanda, um evento que servirá para encerrar com chave de ouro as festividades comemorativas do Vigésimo Aniversário do Superior Orgão de Umbanda do Estado de São Paulo. Foi uma luta de heróis em trazer este orgão durante todos estes anos, e as mãos habilidosas de seus presidentes fizeram com que este orgão – o único em todo o Brasil – pudesse ser uma realidade. Como presidentes o orgão teve: Genral Nelson Braga Moreira, Dr. Estevão montebello, Jamil Rachid, Olinto marcos e agora está nas mãos deste jovem e batalhador da Umbanda que é o Dr. Sérgio Celeste. Foram estes homens que souberam dar um cunho especial no trato de todos os presidentes de federações filiadas para fazer com que chega-se ao ponto de ter 16 entidades federativas congregadas a este orgão.
Mas não é só o Terceiro Congresso, nem tampouco o Superior Orgão de Umbanda que fazem a Umbanda crescer no Estado de São Paulo, são outros setores que embora estejam ligados diretamente ao orgão também fazem a Umbanda e se organizar, um destes setores é a Federação Umbandista do Grande ABC, filiada ao orgão que conseguiu através de seu presidente Ronaldo Linares movimentar toda a Prefeitura de Santo Andrá e através de seu Prefeito Dr. Lincoln Grillo e a participação efetiva de Luiz Gambeta Sarmento, fazer com que a Umbanda ganhasse uma área de 300 mil metros quadrados de florestas, cachoeiras, pedreiras e tudo que é necessário para a prática do nosso ritual dentro das matas. Este local fica no Parque Pedroso em Santo andrá e já foi inaugurado o primeiro SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA, ali uma pleiade de homens dedicados a Umbanda conjuntamente com elementos da Prefeitura de Santo Andrá estão dando desde já um local para a prática da Umbanda do mais alto nível. O Santuário Nacional da Umbanda começa a ganhar forma e já está delineado um conselho que dirigirá este patrimônio da Umbanda, que é um marco da história da Umbanda em todo Brasil.
Outro marco também acaba de ser concretizado através da União de Tendas Espiritas de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo que tem a sua frente esta notável figura que é Jamil Rachid. A União acaba de receber uma área de terreno no Paraguai para implantar a Umbanda naquele país e já está formada a União de Tendas de Umbanda do Paraguai, onde terá a supervisão da União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo.
Amigos aí estão as novas, você nosso estimado leitor ou leitora está vendo como se trabalha para que esta Umbanda possa se organizar.

Na edição 82 o Dr. Adalberto Pernambuco escreveu uma interessante matéria sobre o o marafo:

Marafo ou Marafa, corruptela de Malafa, é uma palavra de origem Kikongo, oriunda de Malavu, designativa da aguardente pura ou da infusão nesta de ervas maceradas, muito utilizada na Umbanda pelos Pretos Velhos e, principalmente, Exus, quer pela ingestão, quer pela distribuição entre os assistentes.
É um material dotado de grande força no campo da Magia, eis que simboliza a mais perfeita ligação entre os dois elementos essencialmente antagônicos: água e fogo por paradoxal possa isto parecer, e concedendo-lhe, a combustão, uma vitalidade hermética. Daí a propriedade com que os italianos a denominam Acqua vita, ou seja, água viva.
Seu poder magnético decorre exatamente desta conjugação de opostos, incomumente encontrada, o que torna assas perigoso o seu uso pelos não iniciados.
Sua ingestão ritualística deve ser feita de molde a não conduzir à embriagues, restringindo-se às giras de Exus e aos trabalhos de Pretos Velhos. Nas engiras das demais entidades, seu uso é limitado apenas às descargas e limpezas.
Destarte, um controle rigoroso e efetivo deve ser exercido pelos cambonos no tocante à quaantidade de bebida ingerida por um guia, isto se considerarmos que uma grande porção levar-nos-á, incontinentemente a duas conclusões óbvias:
a) encontra-se ali um quiumba, sedento de álcool; ou
b) um médium alcoólatra mistifica para satisfazer seu vício.
Baseamos nossa assertiva no fato de que, dentro da Magia Prática o álcool é considerado – bem como todos os excitantes – um dos mais preciosos agentes de que o homem dispõe e, sem contraposição, um dos apresenta maior risco, quando impropriamente utilizado.
Seu emprego, sob a forma de aguardente, se caracteriza por uma ação assás rápida, de pouca profundidade e com duração efêmera.
O principal efeito decorrente de sua ingestão é a grande quantidade de força reversa que libera, proporcionando o ativamento do centro intelectual e predispondo o ingestor à recepção de intuições e vibrações que que lhe passam pelo cérebro em quantidade e número surpreendentes dada a rapidez com que se extinguesua ação energética.
Assim, a eficácia da aguardente se exerce por um lapso de tempo relativamente curto e – isto é o mais importante – nunca se lhe deve recorrer em uma segunda vez no período, exigindo-se repouso de pelo menos duas horas de sono a quem a usou com estes fins específicos, para que as forças despendidas sejam integralmente refeitas.
E este é o maior risco que o álcool proporciona na sua utilização em fins de Magia. Entidades pouco evoluídas, observando ou mesmo conhecedoras de seus efeitos positivos na transmissão das mensagens, mercê da vibração intensa que oferece, induzem o médium a repetir a dose tornando pernicioso o efeito pois, não atingindo o mesmo elevado grau anteriormente obtido, buscam atingí-lo aumentando a dose e fazendo o aparelho parar, destarte, com longas horas de embrutecimento os poucos minutos de exaltação iniciais.
Ora, evidente se torna que indução desta natureza jamais possa partir de uma entidade de Luz, face aos danos produzidos pelo excesso nos corpos físico e etérico do médium e este é o principal argumento que nos leva a sustentar as duas opções já apontadas: quiumbas e mistificação.

O número 117 apresenta uma reportagem relativa ao Sexto Encontro de Chefes de Terreiro realizado pela Associação Paulista de Umbanda em 1985. Nesse evento Diamantino Fernandes Trindade representou a Federação Umbandista do Grande ABC e proferiu palestra sobre as origens da Umbanda no Brasil.
Umbanda em Revista circulou, com distribuição gratuita, até 1985. Em abril desse ano, Demétrio Domingues uniu forças com o conceituado editor Bartolo Fittipaldi e a DINAP (Distribuidora Nacional de Publicações - Empresa do Grupo Abril) para lançar a Revista Umbanda Verdade que era uma versão ampliada e melhor elaborada de Umbanda em Revista. Infelizmente teve vida curta.

Um comentário:

Knud disse...

Caro Diamantino,

Louvável esse trabalho de resgaste da Umbanda, como tem fatos, uma história de muita luta e perseverância. É uma pena que alguns dirigentes desvirtuaram esse caminho.
Parabéns pela sua força.
Saravá
Knud