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domingo, 28 de novembro de 2010

SEMINÁRIO DE CULTURA E CULTOS AFRO-BRASILEIROS

No dia 28 de novembro de 2010, a Federação Luz e Verdade realizou o Nono Seminário de Cultura e Cultos Afro-Brasileiros: “Resgatando Nossas Origens”, nas dependências da Faculdades Zumbi dos Palmares, no bairro de Ponte Pequena em São Paulo, Capital.
O evento foi comandado pela Presidente da Entidade, a Dra. Nancy Cavicchioli e teve na solenidade de abertura: o Hino Nacional, o Hino da Umbanda, Homenagem ao Candomblé, Homenagem a Zumbi dos Palmares e o tema “Um Grito de Liberdade” com a apresentação da Aldeia de Caboclos.
A mesa de abertura contou com a presença de Dr. José Vicente, Dra. Nancy Cavicchioli, Mãe Fátima de Xangô, Cosme Félix e Pai Juberli Varela.
A Federação Umbandista do Grande ABC esteve representada por Diamantino Fernandes Trindade que participou de uma mesa, juntamente com Mãe Rita de Cássia Cordeiro e Rhumbono Megitó Pai Dancy, onde discorreu sobre o tema “A Umbanda na Sociedade Brasileira do Século XXI”.
Dentre as atrações artísticas destacou-se o Grupo Aruanã que apresentou belas melodias umbandistas.

sábado, 27 de novembro de 2010

SESSÃO SOLENE


No dia 26 de novembro de 2010, às 20 horas, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em Sessão Solene presidida pelo Deputado Simão Pedro, homenageou o Primado de Umbanda e Candomblé do Brasil pela passagem dos 50 anos de fundação. O evento teve lugar no Plenário “Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira” e contou com a participação de várias tendas e seus representantes que receberam, ao final da Sessão, os respectivos diplomas da participação.
Dentre as personalidades presentes destacamos a Presidente e Primaz do Primado, Maria Aparecida Naléssio, que fez brilhante e emocionado discurso onde relembrou um pouco da história da Organização fundada em 28 de setembro de 1960 pelo saudoso guerreiro da Umbanda, Felix Nascentes Pinto.
Estiveram presentes também Pai Milton Aguirre, ex-presidente do SOUESP (Superior Órgão de Umbanda do Estado de São Paulo); Sandra Santos, Presidente da AUEESP (Associação Umbandista Espiritualista do Estado de São Paulo); Edson Ludógero, Vice Presidente Chefe de Terreiro da Tenda de Umbanda Santa Rita de Cássia e vários representantes de organizações umbandistas e dos Cultos de Matriz Africana.
A Federação Umbandista do Grande ABC presidida por Pai Ronaldo Antonio Linares, que mantinha fortes laços de amizade com Felix Nascentes Pinto, esteve representada na solenidade por Diamantino Fernandes Trindade.
A festividade foi abrilhantada pela Banda da Policia Militar, que executou o Hino Nacional, a Curimba da Associação Espírita Luz e Verdade - Tupã-Oca do Caboclo Arranca Toco e Liz Hermann que cantou três belas melodias umbandistas.
No encerramento da Sessão Solene, o Deputado Simão Pedro explicou que ele apresentou Projeto de Lei que institui a data de 15 de novembro como dia da Umbanda no Estado de São Paulo. O Projeto foi aprovado pela Assembleia, porém foi vetado pelo Governador Alberto Goldman. Leu o parecer da relatoria que agora o encaminha para plenário na tentativa de derrubar o veto.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

AXÉ MIRIM


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Publicado no Jornal de Umbanda Sagrada de
outubro de 2010.

sábado, 13 de novembro de 2010

O ESPIRITISMO DA UMBANDA

Carlos de Azevedo

Por um artificio, mais literário do que lógico, costumamos situar em posições extremas as tendências que não caminham de mãos dadas na vida. Mas, se nos detivermos em serena meditação analítica, verificaremos que só aparentemente são opostos os extremos, isso na ciência, nas artes e nas religiões, pois nenhuma voz e nenhuma ação nesses campos de meditação e do sentimento deixam de ser uma afirmação de vida.
Essa é uma verdade que se perde nos confins milenários de eras remotas. Pta-hoep, que viveu mais de três mil anos antes de Cristo, filósofo que foi ministro do faraó, dizia que: “tudo é duplo; tudo tem dois polos; tudo tem seu oposto; os opostos são idênticos em natureza e diversos em grau; os extremos se tocam; os paradoxos se reconciliam em manifesta forma os opostos se reúnem”.
Todos caminham par ao mesmo fim, com o mesmo conteúdo sentimental, com suas cambiantes de amor, de felicidade e de crença, todos são cavaleiros andantes de perpetuação da vida, igualmente heróis do mesmo exército: o Amor.
Que importa existam múltiplos rituais desde que seja um só espiritualismo?
Os valores da contribuição nos diversos ritos constituem a formação de quadros educativos que tem, todos eles, os mesmos obreiros silenciosos, aqueles que comungam das tarefas gerais.
Certa vez, quando Chefe de Policia o coronel João Alberto, fomos convocados para uma reunião cujo fim era o de traçar rumos tendentes a estabelecer um critério uniforme quanto à pratica do espiritismo. Entre outros representantes das diversas organizações estávamos eu e o Presidente da Federação Espirita.
No gabinete do Chefe, enquanto aguardávamos sua chegada, palestrávamos sobre assuntos espiritualistas, sendo que eu discordava radicalmente dos propósitos da reunião, pois que, sendo leigo o Estado, qualquer intromissão da autoridade nos Centros Espiritas não só era ilegal, inconstitucional, como ainda criminosa face o Código Penal, ponto de vista esse que foi vitorioso e deu em resultado a revogação de uma portaria sobre o assunto.
Durante a tertulia ouvi do Presidente da Federação Espirita o seguinte e eloquente episódio: – eu recebera diversos convites de um centro de Umbanda, por intermédio de pessoa amiga, para assistir a uma reunião de suas práticas, sempre me esquivando, pois entendia que o umbandismo era “baixo espiritismo”. Certa ocasião foi-me impossível deixar de atender a um desses convites. Durante a reunião, vendo médiuns manifestados, fumando charutos e falando um vocabulário eivado de erros, a minha decepção era tal que cheguei a me tomar de piedade profunda por aqueles seres atrasados e aquelas práticas que eu reputava inferiores. E maior foi a minha convicção quando o Guia Chefe do terreiro pôs-se a dizer que minha fazenda estava com a divisa errada e que eu devia aceitar a proposta que fora feita para vendê-la ao vizinho confinante. Contestei que minha propriedade estava certa, que meu irmão a administrava e nenhuma proposta de venda fora feita. O Guia insistiu em suas afirmativas e no conselho da venda, para evitar uma triste demanda.
Deixei o terreiro com o pensamento firme de que se fazia mister impedir reuniões como essa, pois os chamados guias eram seres atrasados e até tratando de assuntos materiais e inverídicos.
Na primeira reunião da Federação falei ao nosso Guia espiritual sobre o que vira e ouvira e com surpresa ouvi dessa entidade que aquele espirito com a forma de preto velho e que me dera aqueles conselhos era ele mesmo, o nosso amado mentor.
Dias depois chegou meu irmão ao Rio trazendo a proposta do vizinho e declarando-me que de fato as divisas da propriedade estavam erradas. Vendi-a sem discutir.
O ritual da Federação Espirita tão diverso daquele humilde terreiro era apenas aparência, pois a contribuição do obreiro espiritual era a mesma, o ser valoroso o memso, os fins educativos e de caridade igualíssimos.
Findley, o grande sábio inglês, uma das glórias científicas, que realizava admiráveis sessões de voz direta em Londres, confessa em sua obra “No limiar do etéreo” que estranhava e até ficava irritado por ver nessas reuniões, a que compareciam espíritos da mais elevada cultura, mestres sublimados, a direção inicial era dada a um ser cujo linguajar, modos bruscos e atitudes autoritárias revelavam tratar-se de um espirito atrasado, que se dizia Caboclo Pena Branca.
Foi tal sua ojeriza que um dia reclamou de um dos mestres essa presença, ouvindo então que sem o Caboclo Pena Branca nada poderiam fazer, pois ela era o mentor do grupo.
As entidades espirituais são as mesmas, a mudança das formas de apresentação varia consoante a necessidade dos trabalhos e o ambiente.

Texto do livro Umbanda: religião do Brasil, publicado pela Editora Obelisco em 1968.

sábado, 6 de novembro de 2010

MARAFO

Na edição 82 (1984) do periódico Umbanda em Revista, editada por Demétrio Domingues, o Dr. Adalberto Pernambuco escreveu uma interessante matéria sobre o marafo:

Marafo ou Marafa, corruptela de Malafa, é uma palavra de origem Kikongo, oriunda de Malavu, designativa da aguardente pura ou da infusão nesta de ervas maceradas, muito utilizada na Umbanda pelos Pretos Velhos e, principalmente, Exus, quer pela ingestão, quer pela distribuição entre os assistentes.
É um material dotado de grande força no campo da Magia, eis que simboliza a mais perfeita ligação entre os dois elementos essencialmente antagônicos: água e fogo por paradoxal possa isto parecer, e concedendo-lhe, a combustão, uma vitalidade hermética. Daí a propriedade com que os italianos a denominam Acqua vita, ou seja, água viva.
Seu poder magnético decorre exatamente desta conjugação de opostos, incomumente encontrada, o que torna assas perigoso o seu uso pelos não iniciados. Sua ingestão ritualística deve ser feita de molde a não conduzir à embriagues, restringindo-se às giras de Exus e aos trabalhos de Pretos Velhos. Nas engiras das demais entidades, seu uso é limitado apenas às descargas e limpezas.
Destarte, um controle rigoroso e efetivo deve ser exercido pelos cambonos no tocante à quantidade de bebida ingerida por um guia, isto se considerarmos que uma grande porção levar-nos-á, incontinentemente a duas conclusões óbvias:
a) encontra-se ali um quiumba, sedento de álcool; ou
b) um médium alcoólatra mistifica para satisfazer seu vício.
Baseamos nossa assertiva no fato de que, dentro da Magia Prática o álcool é considerado – bem como todos os excitantes – um dos mais preciosos agentes de que o homem dispõe e, sem contraposição, um dos apresenta maior risco, quando impropriamente utilizado. Seu emprego, sob a forma de aguardente, se caracteriza por uma ação assás rápida, de pouca profundidade e com duração efêmera.
O principal efeito decorrente de sua ingestão é a grande quantidade de força reversa que libera, proporcionando o ativamento do centro intelectual e predispondo o ingestor à recepção de intuições e vibrações que que lhe passam pelo cérebro em quantidade e número surpreendentes dada a rapidez com que se extingue sua ação energética.
Assim, a eficácia da aguardente se exerce por um lapso de tempo relativamente curto e – isto é o mais importante – nunca se lhe deve recorrer em uma segunda vez no período, exigindo-se repouso de pelo menos duas horas de sono a quem a usou com estes fins específicos, para que as forças despendidas sejam integralmente refeitas.
E este é o maior risco que o álcool proporciona na sua utilização em fins de Magia. Entidades pouco evoluídas, observando ou mesmo conhecedoras de seus efeitos positivos na transmissão das mensagens, mercê da vibração intensa que oferece, induzem o médium a repetir a dose tornando pernicioso o efeito, pois, não atingindo o mesmo elevado grau anteriormente obtido, buscam atingi-lo aumentando a dose e fazendo o aparelho parar, destarte, com longas horas de embrutecimento os poucos minutos de exaltação iniciais.
Ora, evidente se torna que indução desta natureza jamais possa partir de uma entidade de Luz, face aos danos produzidos pelo excesso nos corpos físico e etérico do médium e este é o principal argumento que nos leva a sustentar as duas opções já apontadas: quiumbas e mistificação.

O USO INDEVIDO DOS PONTOS CANTADOS

Ronaldo Antonio Linares
Diamantino Fernandes Trindade

Existem duas categorias de pontos cantados de Umbanda. Os pontos de raiz são aqueles trazidos diretamente pelas entidades incorporadas ou por meio da intuição dos médiuns. Temos ainda os pontos criados pelos compositores de Umbanda, muito comuns nos festivais de curimbas. Assim também foi composto o Hino da Umbanda.
Os dois tipos de pontos cantados são importantes, pois são ricos em simbologia e podem ser considerados “a trilha sonora de um ritual de Umbanda”.
Ao longo da história diversos artistas gravaram esses pontos. Alguns contribuíram para a divulgação da Umbanda gravando as melodias na íntegra como é o caso de Martinho da Vila com o tradicional ponto de Exu: “O sino da igrejinha”, gravado em 1974, no LP Canta Canta, Minha Gente.

O sino da igrejinha
Faz belém blem blom
Deu meia-noite
O galo já cantou
Seu Tranca Ruas
Que é dono da gira
Oi corre gira
Que Ogum mandou

Noriel Vilela também fez sucesso com uma melodia dedicada a Exu e outra dedicada à Umbanda.

Só o Ôme (Edenal Rodrigues)

Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá
Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá

Suncê compra um garrafa de marafo
Marafo que eu vai dizê o nome
Meia noite suncê na incruziada
Distampa a garrafa e chama o ôme
O galo vai cantá suncê escuta
Rêia tudo no chão que tá na hora
E se guáda noturno vem chegando
Suncê óia pa ele que ele vai andando

Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá
Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá

Eu estou ensinando isso a suncê
Mas suncê num tem sido muito bão
Tem sido mau fio mau marido
Inda puxa saco di patrão
Fez candonga di cumpanheiro seu
Ele botou feitiço em suncê
Agora só o ôme à meia noite
É que seu caso pode resolvê


Acredito sim (Avarése e Edenal Rodrigues)

Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Estive mal de vida, um caboclo me ajudou
Quando estive doente, Preto Velho me curou
Eu cheguei no terreiro à meia noite o galo cantou
Só com três palavras todo mal que eu tinha o vento levou
Levou, levou, levou
Agradeço a Umbanda
A Umbanda me salvou
Levou, levou, levou
Agradeço a Umbanda
A Umbanda me salvou
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Tava desempregado, sem dinheiro pra cômer
Eu não tinha saúde nem remédio pra beber
Hoje tenho emprego, dinheiro, saúde feliz eu estou
Só com três palavras o mau que eu tinha o vento levou
Levou, levou, levou
Agradeço a Umbanda
A Umbanda me salvou

Ronnie Von gravou, em 1972, a melodia “Cavaleiro de Aruanda” (Tony Osanah):

Quem é o cavaleiro que vem lá de Aruanda
É Oxóssi em seu cavalo com seu chapéu de banda
Quem é esse cacique glorioso e guerreiro
Vem montado em seu cavalo descer no meu terreiro
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Ele é filho do verde, ele é filho da mata
Saravá, Nossa Senhora, a sua flecha mata
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá

Em uma das fitas gravadas por Lilia Ribeiro podemos ouvir Pai Antonio, incorporado em Zélio de Moraes, fazer referência ao famoso cantor e compositor Lamartine Babo, que frequentava a Tenda Nossa Senhora da Piedade e utilizava os pontos de Umbanda para compor marchinhas de carnaval e ganhar dinheiro com as composições:

...depois veio começou a culhambar ele porque panhava as músicas que véio cantava e começou a fazer negócio pra carnaval, pra tudo, isto não tá certo, como dize.
Dize, que isso seu magricela, então você vem pra cá fazer isso? Não, não faça não...
Mas tudo passou, ele já ta cá com nós do outro lado não é isso meu filho?

Outro uso indevido de um ponto cantado de Umbanda aconteceu em 1976 quando Ruy Maurity gravou, com grande sucesso, a música “Nem ouro, nem prata”:

Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Samborê, Temba, Folha de Jurema
Oxóssi reina de norte a sul

Sou brasileira faceira
Mestiça, mulata
Não tem ouro nem prata
O samba que sangra do meu coração

Tua menina de cor
Pedaço de bom carinho
Entrei no teu passo, malandro
Eu não sou como a tal Conceição

Chega de tanto exaltar essa tal de saudade
Meu caboclo moreno, mulato
Amuleto do nosso Brasil
Olha, meu preto bonito
Te quero, prometo, te gosto
Pra sempre do samba-canção
Ao primeiro apito do ano 2000

Esta música, na verdade, é uma adaptação do ponto do Caboclo Aracaty:

Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Firmei meu ponto na folha da jurema
Eu sou Caboclo Aracaty

Da mesma forma que Pai Antonio condenou a utilização de pontos cantados para fins comerciais por parte de Lamartine Babo, nós consideramos esta gravação de Ruy Maurity um uso indevido de algo que é sagrado para os umbandistas.


Texto do livro Memórias da Umbanda do Brasil, de Ronaldo Antonio Linares e Diamantino Fernandes Trindade que será publicado, em fevereiro de 2011, pela Icone Editora.