DALLA PAES LEME
E O FAMOSO QUADRO DE YEMANJÁ
Diamantino
Fernandes Trindade
De acordo
com o escritor José Beniste esta imagem de Yemanjá usada pela Umbanda, da
mulher pairando sobre as ondas, foi criada na década de 50 como uma forma da
Dra. Dalla Paes Leme ser homenageada pelo marido. Ela era magra e tinha traços
indígenas, por isso o quadro que foi pintado a óleo, era de uma mulher morena
de cabelos longos e negros. Este quadro percorria casas e terreiros, dentre os
quais o de Benjamin Figueiredo, da Tenda do Caboclo Mirim e a casa de Alziro
Zarur que na época era ligado ao espiritismo. Este mesmo quadro foi que deu
inicio às giras de fim de ano promovidas pela Umbanda nas praias cariocas e
cultuada no dia 02 de Fevereiro pelo Candomblé.
Outra
versão diz que a Dra. Dalla Paes Leme teve a visão de Yemanjá e que um artista
teria feito a pintura.
Tudo isto
teria acontecido em 1955 e, a partir desse quadro surgiram inúmeras imagens de
Yemanjá presentes no imaginário dos umbandistas.
Na edição
62, de janeiro de 1956, do Jornal de
Umbanda, aparece a seguinte legende referente ao quadro:
Este quadro, que
está percorrendo os Estados, está à disposição dos Presidentes e Chefes de
Terreiros dos Centros, Tendas, Terreiros, Cabanas etc.
Aqueles que
queiram receber a visita do Quadro de Yemanjá da Bahia, ou adquirir gravuras do
respectivo quadro, dirijam-se a D. DALLA – Rua Visconde de Rio Branco, 38 (centro)
– Rio – Tel. 22-2689 – Livraria Freitas Bastos – Largo da Carioca – Bazar Santa
Sofia – Rua Santa Sofia, 2 – Tijuca e em diversos Centros e Tendas.
O Jornal
de Umbanda, número 78, de abril de 1958, registrou a presença do quadro de
Yemanjá em Niterói:
Desde o dia 25 de janeiro, quando
tiveram início as festividades de 6o aniversário de fundação da
Tenda Espírita Tujupiara, que se encontra na cidade de Niterói o belo quadro de
Yemanjá, para lá levado em procissão marítima pelos componentes do Centro
Espírita São Thiago de Circular da Penha. No dia 21 de fevereiro a Tenda
Tujupiara fez levar em bela procissão, à noite, sob as luzes de milhares de
velas, com enorme acompanhamento o referido quadro para o Centro São Sebastião,
sito à Travessa Filgueiras, no bairro do Fonseca, e que obedece à direção
material do irmão Custódio, seu presidente e que tem como Babá a irmã Maria de
Oliveira. Ofereceram os componentes deste conceituado terreiro uma magnífica
manifestação à chegada do quadro e a todos que acompanhavam a procissão. Foi
aí, igualmente homenageada a Comissão de Divulgação do Quadro de Yemanjá, na
pessoa da Dra. Dalla Paes Leme, que, junto com os demais membros , acompanhou a
procissão até aquele local. No dia 1o de março o Centro São
Sebastião conduziu o quadro de Yemanjá para a Casa de Caridade Nossa Senhora da
Glória – Terreiro do Caboclo Tupinambá – à Rua Álvaro Neves, 121, também no
Fonseca, em bela romaria que reuniu mais de uma centena de filhos de fé, apesar
do temporal que caiu na ocasião.
A Dra. Dalla Paes Leme presidia a
COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO DA IMAGEM DE YEMANJÁ. Era uma umbandista fervorosa,
filha de Yemanjá, muita ativa nos eventos umbandistas. Apresentamos uma matéria
do número 82 do Jornal de Umbanda, de
agosto de 1958, relativa à homenagem à Rádio Guanabara e ao jornalista Átila
Nunes.
Homenagem um
radialista
Realizou-se domingo, dia 10, singular
homenagem à “Rádio Guanabara” e ao radialista Átila Nunes. Prestou-a a
“COMISSÃO DE DIVULGAÇÃO DA IMAGEM DE YEMANJÁ”.
Na ocasião, fazendo surpresa ao
homenageado, a Dra. Dalla Paes leme, presidente daquela comissão, ocupou o
microfone e fez uma saudação à Rádio Guanabara e ao Sr. Átila Nunes. Enalteceu
a colaboração do conhecido locutor à divulgação da Imagem de Yemanjá, ressaltando
as suas qualidades de umbandista e homem publico e salientando, com
propriedade, a sua cooperação na obra daquela comissão de confraternização
entre todos os terreiros e centros do Distrito Federal e do Interior do Brasil.
Fez questão de mostrar, numa demonstração autêntica de sinceridade umbandista,
a gratidão da “Comissão de Divulgação da Imagem de Yemanjá” ao homenageado.
Terminando a sua alocução, a Dra. Paes
Leme, em nome da “Comissão de Divulgação da Imagem de Yemanjá”, ofereceu ao Sr.
Átila Nunes a primeira imagem que veio a publico. Trata-se da imagem esculpida
com grande arte e que representa a verdadeira Yemanjá. Atila Nunes,
dirigindo-se a todos os presentes agradeceu aos presentes a homenagem e,
grandemente emocionado pela subtileza da deferência com que lhe distinguia a
“Comissão de Yemanjá”, enalteceu o grande trabalho de fraternidade que vem
realizando sob o signo de Yemanjá e sob a presidência da Dra. Dalla Paes Leme,
cujas prendas de grande umbandista e espírito de luta de confraternização entre
os meios de Umbanda, salientou com entusiasmo, concitando à todos os
umbandistas a formarem sob a bandeira da fraternidade desfraldada pela
“Comissão”.
Estiveram presentes à homenagem, vários
centros e terreiros, bem como numerosos umbandistas.
Encerramos com um belo poema da Dra.
Dalla Paes Leme à Yemanjá, publicado no número 75 do Jornal de Umbanda, de dezembro de 1957.
Yemanjá
Dalla Paes Leme
(Agosto de 1954)
A tarde ia descendo
E, contra as areias da praia
arrebentando,
E os pescadores, cansados,
As suas redes pesadas recolhendo;
Despreocupados, uns iam cantando...
Nisto, uma onda que, ao longo, em
segredo,
Aos poucos vinha se formando,
Foi-se avolumando, avolumando...
E, contra as areias da parais
arrebentando,
Causou aos pescadores grande medo.
E, quando, enfim, desceu
E em espumas se perdeu...
Misteriosamente,
Encantadoramente,
Uma linda mulher apareceu.
Uma estranha mulher! Calma, serena,
Que serenamente parou:
– Olhos verdes, cabelos acastanhados,
Não era branca, nem cabocla, nem morena;
Tinha o semblante para, lívido, mestiço,
Com muito de quebrante e muito de
feitiço
Não sorria. Não falou.
Os pescadores, pasmados,
Entreolharam-se,
Interrogaram-se tanto... tanto...
Depois... unidos pelo espanto,
Foram-se chegando...
Se chegando...
Nisto, outra onda que ao longe se
formou,
Rapidamente foi-se avolumando,
avolumando...
E, bem á frente dos surpresos
pescadores,
Contra as areias da praia, desceu
E em espumas se perdeu...
Ninguém... Somente o chão coalhado de
flores...
No ar, uma suavidade,
Uma alacridade,
Um halo de amor e piedade...
A tarde ia descendo
E os pescadores, cansados,
Maravilhados,
Suas redes repletas recolhendo.
No Céu brilhava a primeira estrela;
Nuvens misteriosas
Disputaram a graça de envolvê-la...
E o ar ficou cheio de amor...
E o mar ficou cheio de rosas...
E o chão ficou cheio de flores...
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