Apresentamos uma maravilhosa matéria de Mestre Yapacani publicada em 1957 em um periódico do Rio de Janeiro.
Apresentamos também uma foto de 1956 de Matta e Silva. Apesar da baixa resolução, não podíamos deixar de fazer o registro histórico.
Esta e outras matérias inéditas de Matta e Silva, Capitão Pessoa, João Severino Ramos e outros importantes escritores da Umbanda serão publicadas em breve no livro "W. W. da Matta e Silva e o Capitão Pessoa no Jornal de Umbanda".
Sou depositário da maior parte do acervo do Jornal de Umbanda.
Diamantino F. Trindade
UMBANDA OU A RESSURREIÇÃO DOS ANTIGOS
MISTÉRIOS
W.
W. da Matta e Silva
Umbanda como
Lei, Expressão e Regra, é a força mágica, que abarca ou enfeixa, todo
este tremendo e crescente movimento religioso, já alcançando milhões de
criaturas, através de milhares e milhares de agrupamentos-afins (Tendas,
Cabanas, Terreiros, Centros, Templos, Ordens, Fraternidades, Casas etc.), já
existentes por quase todos os Estados do Brasil.
O vocábulo
Umbanda somente pode ser, dentro das qualificadas de línguas mortas, assim como
sânscrito, no pelhvi, nos sinais védicos e, diretamente, na língua ou alfabeto
adâmico ou vatânico, dito primitivo da humanidade, quando entre este e aqueles,
a tônica dá as variações próprias, desde o AUM-BAN-DAN, ÔM-BAN-DÁ, UM-BAN-DÃ,
AUM-BAN-DA, ÔM-BAN-DHA ETC.
Sua origem se
perde na pré-história... Todavia, entre os Angoleses, existe o termo forte de
KI-NBANDA – kia kusaka ou kia dihamban – que significa, sacerdote, feiticeiro,
o que cura doenças, invocador dos espíritos etc., firmado no radical MBANDA (parte inflexível), conservado através de
milênios, legado da tradição oral da raça africana, o qual é uma corruptela do
original U-MBANDA, conhecido de seus primitivos sacerdotes (que também foram
depositários do mistério ou da síntese religiosa que esta palavra traduz), quando os Templos se erguiam, imponentes, no Alto
Egito, e na lendária Índia, em remotas épocas. Fazemos notar também, que deste
vocábulo trino, os Bahmas identificam apenas uma expressão – o AUM védico...
O valor real
desta palavra, transcende da maneira
comum, pronunciada por nós a própria magia do som, isto é, das vibrações. Ela
tem uma vocalização especial, usada na parte esotérica, pois se transforma em
poderoso mantram, que corresponde ou
provoca certas correntes fluídicas de harmonia, no psiquismo, pelo chackra ou Plexo Frontal.
Então
comprovamos que Umbanda é um termo místico, sagrado, vibrado, litúrgico,
implantado de 40 anos para cá (depois de 1917),[1]
pelos espíritos chamados de caboclos
e pretos velhos, dentro dos cultos
Afro-Brasileiros, quando estes ambientes alcançaram certa tônica espiritual e quando se
fez necessário traduzirem por ele,
uma coordenação de Princípios, Fundamentos, sistemas e Regras, e significa, em
realidade – CONJUNTO DAS LEIS DE DEUS...
Elucidação
necessária
Devemos
esclarecer, para que se compreenda bem o exposto, que os nossos irmãos
africanos, aportados no Brasil, como escravos, já tinham seus cultos e como elemento básico, impulsionando a razão
de ser dos rituais, a invocação dos
Orixás, como manifestação espirítica: era o decantado “estado de santo” –
transe mediúnico para nós e excitação ou “l’animisme fetichiste” de Nina
Rodrigues – onde os “pais de santo e respectivas filhas” ficavam “possuídos
pelo Orixá”...
O fenômeno
espírita propriamente dito, considerado por eles, como o vértice de seus
terreiros, era o da manifestação do referido Orixá, que nenhum Babalaô ou Babá,
dos tempos passados e presentes, JAMAIS definiu ou caracterizou como sendo um
espírito de preto, branco, mestiço ou alemão, francês, japonês etc. O conceito,
até hoje fundamentado, é o seguinte: Os Orixás ancestrais, que interpenetram,
ora como força divinizada da natureza, ora como Espíritos Superiores desta
mesma natureza, ora como “deuses da mesma categoria dos anjos no cristianismo”
– não baixam, isto é, não se manifestam
no sentido de transe mediúnico, não incorporam. Os que baixam são os Orixás intermediários. Estes na variação do conceito
de modernos Babalaôs, não devem “ser confundidos com espíritos elementais, nem tampouco com o santo
católico”, que vem a ser um EGUN... E ainda: os africanos, fora da cerimônia
funerária, na qual invocavam a alma do pai
de santo morto, esperando viesse ditar sua última vontade, não aceitavam,
ou melhor, nem cogitavam em eguns, nos seus rituais ou praticas religiosas...
Os Orixás
intermediários devem ser forçosamente, pela Lei de Afinidades, espíritos de
certas categorias cuja evolução, ainda os sujeitam ao karma coletivo e
individual. Foram necessariamente, encarnados
– passaram pela vida terrena – e incontestavelmente, EGUNS. Estes, segundo
os ensinamentos, são espíritos de desencarnados... Portanto, a natureza dos espíritos que se
manifestavam nos “cavalos ou médiuns”, considerados como orixás, era uma
incógnita para os africanos... E, não sabemos se os atuais sacerdotes desses cultos já resolveram esse “mistério”.
Para nós outros, dentro da iniciação
genuinamente umbandista, este “mistério” não existe. Sabemos que os
classificados como Orixá intermediários, atuantes exclusivamente no primeiro
plano desta Grande Lei, são exatamente o que o esoterismo indiano conhece como Nirmanakayas. Precisamente como diz
Arthur C. Powel em sua obra “El CuerpoAstral”: Un Nirmanakaya fué um ser humano que há alcanzado la perfeccion, que há
puesto de lado su cuerpo físico, pero conserva sus princípios inferiores,
manteniendo-se en contato com la tierra, al objeto de ayudar em la evolucion de
a humanidade. Estas grandes entidades
pueden comunicarse e, em contados casos, se comunican, valiendose de um medium,
pero este ha de ser muy puro e de caracter muy elevado”.
Mas, o que ainda
ficou claro e patente, é que este fenômeno ou costume de Babalaôs receberem
espíritos de “caboclos e “pretos velhos” – que são desencarnados, eguns –
estabeleceu-se, ou melhor, tornou-se em REGRA, depois, muito depois, quando se
firmou completamente o entrelaçamento com o meio aborígene e subsequentes
mesclas. Em suma: a atuação deste espíritos deu-se como processo ou movimento
evolutivo, imperativo, gerado ou
nascido AQUI, nas boas terras brasileiras, sob a vibração do Cruzeiro do Sul, ao findar a Era de
Pisces... Foi este o PROCESSO, o fixador da influência e respectiva
CONSOLIDAÇÃO do que, conscienciosamente afirmamos como Lei de Umbanda...
É absurdo e
ridículo, supor-se que Seres desencarnados do estado de índios kalapalos, xavantes ou de africanos, destas tribos
ou nações ainda existentes, em condições primitivas, lhes sejam facultados
pelos Orixás Superiores (conhecido no esoterismo oriental como Senhores do
Karma – os Lipikas – pois que o nome não altera a essência da coisa), atuarem
pela manifestação mediúnica, a fim de ensinarem aquilo que eles não sabem, isto é, manifestarem
conhecimentos profundos, movimentarem forças sutis da magia, com alto
discernimento de causas e efeitos etc., conhecimentos estes, somente adquiridos
em sucessivas provas e experiências, por intermédio de outras condições humanas.
É ponto fechado nos ensinamentos
ocultos, que os remanescentes atrasados de nossa 5a Raça-Raiz (raça
no sentido de todos os seres que povoam o Planeta Terra) continuam se
encarnando em povos ou tribos que ainda representam períodos do passado, como
sejam os ditos aborígenes da América, África e certos ramos asiáticos, devido,
justamente, aos seus estados de consciência ou pouco adiantamento. Todavia
admitimos que muitos destes, possam atuar em ambientes e criaturas afins aos
subplanos. Porém nunca como os que conhecemos e se identificam como Protetores,
Guias e Orixás intermediários... Da grande Lei de Umbanda.
Doutrina
Na doutrina
estas supracitadas Entidades, de “caboclos e pretos velhos”, ensinam da
existência de um Ser Supremo – (a mesma Deidad ou Sat – Raiz sem Raiz – da
Doutrina Secreta) Causa Primeira que movimentou todos os Princípios, onde todas
as especulações (sobre Ele) se limitam entre as clássicas interpretações
filosóficas e teológicas de todos os tempos, e a fé ou grau de alcance
espiritual de cada um...
Ensinam também
que Ele deu vida ativa a todos os Espíritos para se tornarem nos EGOS
individualizados, que, sistematicamente, tomam a forma humana, desde as noites
da Eternidade. Afirmam mais que Deus (ou Zambi, Olorum, Obatalá, Tupan etc.)
revelando os Seres e criando as Leis – cósmicas, de causas e efeitos etc. – por
certo que revelou ou estabeleceu também a Lei Uma ou seja, a Verdade Imutável
(a verdade entra no aspecto do Relativo,
de acordo com as concepções, penetrações, isto é, em relação com os já
mencionados estados de consciência
dos homens), com suas Regras – morais, espirituais, imprescindíveis ao
crescimento desses mesmos Egos, nos sucessivos Ciclos de Evolução ou seja,
desde a 1a Raça Mãe, dita Adâmica, até a atual, no meio de sua 4a
Ronda ou Círculo de Provas...
Consideram mais
que esta Lei Uma, com suas LINHAS DE FORÇA – estabelecidas pelo CRIADOR –
DETERMINAM as Correntes de Equilíbrio e Ascenção – fisio-psíquicas-espirituais
e são realmente, o que conhecemos,
esotericamente, como as 7 LINHAS DA UMBANDA e que, esotericamente, são
confundidas e chamadas de “linhas de santo”, linhas disso ou daquilo. Essas
Eternas Verdades, transcendentais no verdadeiro Meio Umbandista, JAMAIS devem
ser comparadas com os dogmas ou convencionalismos de outras religiões ou
escolas...
Devemos frisar
que os espíritos de “caboclos e pretos velhos” se apresentam nestas formas,
para se identificarem como militantes da Lei, por afinidades com antiquíssimas
encarnações onde muito sofreram, para simbolizarem assim a individualidade
nestes estados – como Pureza, Simplicidade, Humildade... Pois bem, repetem
sempre, que a Umbanda revivendo a original Tradição, por intermédio deles, tem
por Missão precípua, restaurar certos ensinamentos ocultos, em paralelo com a
capacidade de aferição dos humanos, a fim de evoluírem mais rapidamente, pois é
visível o atraso espiritual desta raça ainda envolta em duros cascões –
astrais, mentais, religiosos, sociais etc.
Realmente estas
entidades vem lutando tenazmente dentro dos agrupamentos afins no sentido de
elucidarem as criaturas, ainda sensíveis pelo atavismo latente a se arraigarem
a influências diversas, no próprio meio onde é atuante o fetichismo e as
práticas absorvidas de outros setores religiosos. A dificuldade primordial
destes “caboclos e pretos velhos” está em que, para doutrinarem, conservando
seus ensinamentos corretos – não deturpados – livres destas tendências e
práticas, necessitam do fator mediúnico e este é complexo, nem sempre tem
veículos (denominados médiuns, aparelhos, mediadores e até cavalos etc.),
apropriados, para se externarem verdadeiramente.
Estes veículos são realmente, os pontos vitais na Umbanda...
Dentro
da ciência dos números
De fato, as
nossas Entidades já deram a prova de serem os defensores das Antigas e Eternas
Verdades, e para isso, identificaram Umbanda como a primitiva Lei
Religio-Científica, dando pela ciência dos números, sua própria NUMEROLOGIA –
CHAVE FUNDAMENTAL, citada e ansiosamente pesquisada no todo, pelos Iniciados
das várias Escolas, inclusive pela própria H. P. Blavastki (fundadora da E.
Teosófica), que fundamente sua Doutrina Secreta (1o vol.) nas 7
Estâncias do “Livro de Dyzan” (estas Estâncias se baseiam nesta numerologia,
porém, velando ou ocultando, todo arcabouço desse sistema de números, básicos,
relacionados diretamente com a Cosmogonia esotérica e com as Hierarquias
Divinas até as Sub-humanas), argumentando repetidamente nesta chave sagrada. Fazem a mesma coisa,
robustecendo conceitos ou ensinamentos, Roso de Luna, Sinet, Figaniéri, A.
Besant, e dezenas de outros mais em suas obras...
Análise
do panorama do meio
Todas as
religiões tem sua parte interna (ou esotérica) e externa (exotérica ou pública)
e se fizeram distintas, entre si, porque particularizaram sistemas e regras,
isto é: foram interpretadas ou concebidas em relação com as conveniências
políticas, sociais, morais e espirituais de povos ou raças, pelos seus
sacerdotes e autoridades religiosas que formaram ensinamentos, em livros
sagrados, variando, velando ou deturpando pelo Relativo, o aspecto Uno da
Verdade. E assim é que os mitos, símbolos e ritos são véus com os quais envolveram as massas. Todavia, estes
véus, são desvelados, em justaposição com as necessidades e penetrações dos
iniciantes, dentro do critério com que foram criados ou seja: só o podem fazer,
os realmente capacitados ou autorizados... Esta é a regra.
Finalizando
Como não temos
mais espaço, reafirmamos o que disse o irmão H. de S. em reportagem anterior:
“Umbanda é a LUZ nas TREVAS”; é também o que disse o confrade R. de C. “Umbanda
é caminho, é sentimento, é magia, é símbolo. Veio de longe, de onde? Veio de
sempre para o nosso amor”. Tudo isso se harmoniza em nosso coração e nos fez
sentir nestas composições a mesma mística, quando dos arcanos profundos d’alma,
o verbo fremente interroga:
– SENHORA DA LUZ
– QUEM ÉS? – Eu sou a Umbanda – vibração mágica de amor e força – ELO
envolvente que atinge a tudo e a todos!
Como Expressão e
Regra, sempre me apresentei Velada pelo próprio Manto do Criador! Envolta nele,
estendi as variações de minha “forma-luz” sobre os povos, através dos
séculos...
No entanto eu
sou a Primitiva Revelação, Alma do Mundo, sem princípio e sem fim, dentro do
seio da Eternidade!
Já me fiz
interpretar, inúmeras vezes, sendo assim decantada, na concepção e na fé: “Eu
sou a Natureza, mãe das coisas, senhora de todos os elementos, origem e
princípio dos séculos, suprema divindade, rainha dos Manes, primeira entre os
habitantes do Céu, tipo uniforme dos deuses e das deusas. Sou eu cuja vontade
governa os cimos luminosos do Céu, as brisas salubres do oceano, o silencio
lúgubre dos infernos, potencia única, sou pelo Universo inteiro adorada sob
várias formas, em diversas cerimônias, com mil nomes diferentes. Os Frígios,
primeiros habitantes da terra, me chamam a Deusa – mãe de Pessinonte; os
atenienses autóctones me nomeiam Minerva, a Cecropana; entre os habitantes da
ilha de Chipre, eu sou Vênus de Paphos; entre os cretenses, armadores de arco,
eu sou Diana Diehjna; entre os Sicilianos que falam três línguas, eu sou
Proserpina, a Stiglana; entre os habitantes de Elêusis, a antiga Ceres, uns me
chamam Juno, outros Belone, aqui Hecate, acolá a deusa de Ramonte. Mas aqueles
que foram os primeiros iluminados pelos raios
do sol nascente, os povos Etiópicos, Arianos e Egipcíos, poderosos pelo
antigo saber, estes, sós, me rendem um verdadeiro culto e me chamam pelo meu
verdadeiro nome: rainha de ISIS” (Apuleia – “Metamorfose”, IX, 4).
Porém, entre
aqueles do passado, no presente, existem muitos, que conseguem me ver sem o véu
de ISIS e para estes Eu sou a Lei – a Unidade – excelsa manifestação do Verbo,
que harmonizo minha tônica, através dos Planos e Subplanos e me faço atuante,
pelo Relativo na Verdade, dentro dos corações de todas as criaturas que neles
se situam. E, hoje, também, que de meu antigo berço, mil cânticos me evocam,
farei reviver, das brumas do esquecimento, como imperativo da Nova Era que
chegou, os Antigos Mistérios – a perdida síntese Relígio-Científica...
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