Eu morava em Santana com minha família e
desde cedo, mesmo sendo católica, a minha mãe me levava em centros espiritas,
terreiros, cartomantes etc. Parece que eu saia do padrão estabelecido pelos
ditames da igreja.
Ainda bem jovem conheci uma senhora
baixinha e muito simpática: Tia Edith. Era assim que a chamávamos. Fomos
criando admiração e amizade com ela. Era uma cartomante com índice “quase zero”
de erros. Dava até medo ir lá para uma consulta.
Não
gostava de atender homens. Como ia lá desde pequeno eu tinha a porta aberta. E
quando a “coisa apertava” eu corria para lá.
Em 1979, misteriosamente, meu pai
apareceu com o rosto todo deformado. Começou o “bate perna” nos consultórios
médicos e nada era descoberto. La fui eu na Tia Edith. Nessa época eu era um
espírita convicto e não queria nem ouvir falar de Umbanda, de terreiros e
“dessas coisas”. Quando ela começou a consulta, imediatamente falou que meu pai
tinha recebido um ponto de morte e que, se eu não fosse a um terreiro, ele
morreria em sete dias. Fiquei assustado porque não queria ir a terreiros. Ela
me disse que alguém ia me procurar e me levar.
No dia seguinte minha dentista, Dra.
Elda, que era espírita, falou de um terreiro em Guarulhos. E lá fomos em uma
tarde de terça feira. Um terreiro grande, de terra batida, com um grande
canteiro externo repleto de ervas. Mas só tinha a Mãe de Santo. Não tinha
outros médiuns. Segundo a dirigente ela trabalhava sozinha, pois tinha ficado
cansada de médiuns sem vergonha.
Incorporou um Preto Velho, Pai João de
Angola que disse: Tão querendo ti matá zinfio! ”Pediu ao filho da dirigente que
pegasse picão preto no canteiro e fervesse. Nesse meio tempo fez descarrregos,
rezou e benzeu meu pai diversas vezes. Com um galho de arruda foi lavando o
rosto de meu pai. No final disse: “Em nove dias ele estará curado”. E assim
aconteceu. Essa foi a minha porta de entrada para a Umbanda. No ano seguinte eu
já girava no terreirinho do Senhor Ernesto Scazzioti.
No dia seguinte ao
trabalho de Pai João para curar meu pai ele passou por uma junta de nove
médicos no Hospital São Paulo e nenhum conseguiu um diagnóstico para a doença.
Um deles, um velhinho simpático, coletou material e foi para o microscópio. Em
dez minutos deu o diagnostico: fungo na raiz da barba. O segundo caso em
cinquenta anos. Ele estava tomando nove antibióticos. Ficou só com um e em nove
dias ficou curado como havia dito Pai João. Duas
semanas após voltamos ao terreiro e Pai João disse que havia sido feito um
trabalho para matá-lo, conforme havia dito Tia Edith.
Nesse dia levei meu compadre Antônio dos Santos, na época com 25 anos e que se locomovia com o auxílio de uma bengala. Um trabalho feito por uma dessas mulheres vampiras que chamam os homens de canalhas e cretinos. Pai João mandou preparar uma papa com fubá e passou nas pernas dele. Alguns dias depois ele se locomovia normalmente.
Nesse dia levei meu compadre Antônio dos Santos, na época com 25 anos e que se locomovia com o auxílio de uma bengala. Um trabalho feito por uma dessas mulheres vampiras que chamam os homens de canalhas e cretinos. Pai João mandou preparar uma papa com fubá e passou nas pernas dele. Alguns dias depois ele se locomovia normalmente.
O tempo passou e, sempre que eu
precisava, ia na Tia Edith. Às vezes, no meio da consulta, ela passava mal e
pedia para eu incorporar o Caboclo Sete Montanhas. Depois do passe a consulta
continuava. Em 1989 um fato surreal ocorreu. Eu estava muito mal e Tia Edith
falou: “Vou te levar em lugar muito bom no Jaçanã”. Em uma tarde fria fui com
ela em um terreiro onde a Mãe de Santo dava consultas particulares. Incorporou
a Pombagira, que colocou uma peruca horrível até o meio das costas, e começou a
conversar comigo. A essa altura eu já estava duvidando de tudo aquilo. Achava
que era um showzinho para me tirar dinheiro. Falei para Tia Edith: “Olha em que
buraco você me trouxe”. E ela respondeu: “Confia Tino”.
A Pombagira disse: “Vai no botequim aí
em frente e compra uma sidra e uma cerveja”. Comprei a sidra e uma cerveja
Antarctica. Quando ela olhou para o material disse: “Isto é cerveja de puta
pobre. Vai lá e troca por uma Brahma”. Desânimo total. Queria ir embora. Fui
trocar a “puta” da cerveja. Ela sorveu deliciosamente o néctar espumante de
puta rica e começou o trabalho. Colocou um pano no chão, tirou o arame da tampa
da sidra e bateu com força no chão. Tomei um belo banho de sidra. E ela disse:
“Agora vai ficar bem”.
Naquela noite, e nas seguintes, dormi
como um anjo. Era o começo do meu processo contra o preconceito. Em 1996, Tia
Edith foi para a Pátria Espiritual. Cumpriu sua tarefa com dignidade.
Saravá mãezinha querida!
No Terreiro de Pai João de Angola ouvi
meu primeiro ponto de Umbanda:
Navio negreiro vem de alto mar
Correntes pesadas na areia
A negra escrava se põe a chorar
Saravá Mãe Yemanjá
Uma estrela brilhou aqui no congá
É o Pai João que vem saravá
É meu Pai João que vem trabalhar
Estrela Guia clareia o dia
Saravá o Pai João que vem de Aruanda
Pai João, a Umbanda lhe mandou chamar
Saravá o Pai João no congá de Oxalá
Tia Edith, a baixinha do lado esquerdo
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