Diamantino Fernandes
Trindade
Em 2014, já com o primeiro volume da
obra História da Umbanda no Brasil em
fase bem adiantada de pesquisa e redação, um fato inesperado ocorreu.
O Coronel Carlos Soares Vieira
deslocou-se do Rio a São Paulo e, no Santuário Nacional da Umbanda, ofereceu um
livreto[1],
com uma importante pesquisa por ele realizada, a um escritor umbandista que
pouca ou nenhuma importância deu ao material.
Nesse dia eu estava no Santuário e meu
Pai Espiritual, Ronaldo Linares, apresentou-me o Coronel. Ofereci-lhe um
exemplar do meu livro Umbanda Brasileira:
um Século de história. Ele me mostrou o material e ele me ofereceu o seu
livreto e outros documentos históricos sobre a Umbanda. Passamos a nos
corresponder por telefone, cartas e e-mail. Gradativamente ele foi me enviando
um farto material documental.
Mas quem é afinal o Coronel?
Carlos Soares Vieira é natural do Estado
de Sergipe e iniciou carreira militar no Exército Nacional, na cidade do Rio de
Janeiro. Serviu também em Sergipe, Mato Grosso do Sul, Brasília e Paraná.
Desde 1960 ele frequentava terreiros de
Umbanda e cultos afro-brasileiros. Diz ele que quando era transferido de
cidade, a primeira coisa que fazia era procurar um terreiro. Frequentou
centenas deles pelo Brasil afora. Médium atuante, até hoje (aos 83 anos) dá
incorporação às entidades espirituais que lhe assistem quando visita uma casa
umbandista.
Após a sua reforma, no Exército
Brasileiro, dedicou-se à pesquisa histórica da Umbanda na Biblioteca Nacional,
no Jornal de Umbanda, terreiros,
organizações federativas e com médiuns e sacerdotes.
Um dos objetivos de sua pesquisa foi o
resgate do processo histórico das Sete Tendas Mestras,[2]
oriundas da Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, fundadas por determinação
do Caboclo das Sete Encruzilhadas. O coronel cita:
Apesar do grande esforço, com
persistência e vontade que venho colocando neste empreendimento, lamento com
tristeza em dizer que encontrei muita falta de vontade e de fraternidade por
parte de alguns irmãos, por não entenderem o meu propósito de resgatar a
história dessas sete tendas que foram o alicerce básico dessa religião de
humildes e oprimidos.
No livreto o Coronel relata algumas de
suas visitas e dificuldades durante a pesquisa que, segundo ele, está em aberto
e ainda tem algumas lacunas para serem preenchidas. Disse também que, em março
de 2008, tentou contato com Marizeli, médium da Tenda São Jorge e responsável
pelo site e com o seu Dirigente Espiritual Pedro Miranda, também presidente da
UEUB, que pouco informaram, mesmo sendo o Órgão de Cúpula criado pelo Caboclo
das Sete Encruzilhadas, visto que a UEUB (União Espiritista de Umbanda do
Brasil), não possuía os arquivos destas tendas. Em Cachoeiras de Macacu (RJ)
recebeu da Sra. Laudelina informações sobre as entidades espirituais de algumas
tendas e datas de fundação.
Na CEUB (Congregação Espírita Umbandista
do Brasil), Dona Fátima, sua presidente, mostrou-lhe os exemplares do Jornal de Umbanda onde colheu
informações, às vezes contraditórias, sobre as sete tendas.[3]
Felizmente o livreto foi recusado pelo
irmão escritor, conforme já mencionei, pois, provavelmente ele não saberia o que
fazer com o material pesquisado.
A minha pesquisa sobre as Sete Tendas
Mestras era, até então, muito pobre, com muitas lacunas, e fundamentada em
alguns documentos da década de 1970.
Ampliei, então, os textos sobre o tema e
tudo foi publicado no primeiro volume da obra História da Umbanda no Brasil, com as devidas citações e
autorização do nosso querido irmão e amigo Coronel Carlos Soares Vieira.
Outros materiais importantes, como os
livretos históricos da Tenda Espírita Mirim, escritos por Benjamim Figueiredo,
foram registrados pelo Coronel e publicados por mim em outros volumes da obra História da Umbanda no Brasil.
Em determinado momento alguns “irmãos”
umbandistas disseram que o Coronel era uma lenda que eu havia criado. Pois bem,
no dia 2 de julho de 2018, eu, minha esposa Tarsila e meu filho Tharso, fomos
recebidos pela “lenda” em sua residência na Rua Lauro Muller, em Botafogo, Rio
de Janeiro.
Depois de algumas horas de agradável
conversa ele nos apresentou diversos documentos históricos impressos e gravados
que nós desconhecíamos e que, provavelmente, não serão publicados em livros,
porém estão sob a custódia da Casa de Cultura Umbanda do Brasil que fará a sua
divulgação gradativamente.
Uma quantidade significativa de
exemplares do Jornal de Umbanda, o
primeiro periódico umbandista, fundado por Zélio de Moraes e colaboradores, nos
foi enviado pelo Coronel e estão sob a guarda da Casa de Cultura Umbanda do
Brasil. Atualmente esse acervo é disponibilizado, na forma digital, pela
Biblioteca Nacional.
Em nosso retorno a São Paulo fizemos uma
visita ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida onde pudemos sentir a
energia intensa e positiva daquele santuário da fé brasileira.
Saravá Coronel Carlos Soares de
Oliveira!
[2] Tenda Espírita Nossa Senhora da
Conceição, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia,
Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Jerônimo, Tenda Espírita São
Jorge e Tenda Espírita Oxalá.
[3] Maiores detalhes podem ser
obtidos no primeiro volume do livro História
da Umbanda no Brasil, publicado pela EDTIORA DO CONHECIMENTO, em 2014.
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