Durante a luta da independência, na Bahia,
criaram-se batalhões de milícias compostas de crioulos, sob a denominação
“Legião dos Henriques”, em homenagem aos grandes feitos de armas contra os
holandeses em Pernambuco, praticados pelo valente cabo de guerra Henrique Dias
(Negro).
A essa legião foram incorporados alguns
batalhões compostos de africanos, sendo o comandante de um deles o
tenente-coronel João Batista Faria, africano falecido na cidade de Cachoeira,
onde exercia o cargo de procurador do foro. Este oficial fez parte da Companhia
de Veteranos que deu guarda de Honra a S. M. Dom Pedro II, por ocasião de
visita a esta província em 1859.
Esse africano já trazia a seita religiosa
de sua terra natal. Aqui era obrigado por lei a adotar a religião católica.
Habituado naquela e obrigado por esta ficou
com a duas crenças.
Conta-se que esse coronel João Batista
frequentava o candomblé da Ladeira de Santa Tereza de Domingos Africano.
Numa dessas reuniões o candomblé foi
cercado pela polícia e ocorreu grande pancadaria e correrias, ocasionando a
morte de um pobre velho africano. Esse ocorrido nunca saiu da mente de João
Batista.
Pois bem, os anos se passaram e as
perseguições nunca tinham tréguas.
Na época laureada de 28 de setembro de
1885, da qual foi sancionada a lei que dava plena liberdade aos escravos
sexagenários ou seja, os negros que tivessem mais de 60 anos de idade.
Em virtude desse acontecimento, o coronel
João Batista Faria, foi impulsionado por uma força intuitiva e tratou
imediatamente de procurar entrar em contato com os escravos hora livres, que
foram sacerdotes ou embandas em sua terra natal, pois havia muitos entre os
demais, que foram arrancados a força de suas terras e outros que vieram
espontaneamente para não deixar morrer aqui a crença de sua seita.
Os sacerdotes aqui existentes nessa época
eram de diversas partes da África de acordo com seu povo. Bantus, Angolas,
Nagôs, Jejes, e principalmente Yorubanos que eram mais instruídos e possuíam
maior cultura.
Após reunir sacerdotes, conferenciou com
os mesmos e organizaram a sociedade negra UNIÃO DAS BANDAS devido ser a união
dos diversos povos africanos aqui vivendo e radicados.
A finalidade dessa organização era de
amparar os escravos mais velhos, largados ao seu destino, professar os seus
rituais de suas seitas, orientar e dar-lhes trabalho.
Essa sociedade era uma espécie de
sindicato pacífico.
Mais tarde incorporam-se grupos de índios
civilizados e ainda mestiços desempregados.
Numa das conferências que eram efetuadas
na residência do coronel, concluíram que a sociedade deveria ter uma sede
adequada para se fazer as reuniões e processar os seus rituais do culto de seus
povos e onde se poderia convocar os seus associados.
Aconteceu, porém, que certa feita de um
contrato de trabalho realizado pelo coronel, com um senhor de engenho muito seu
amigo o qual empreitava uma grande área de terra plantada, para este distribuir
aos negros associados para que nessa área trabalhassem plantando ou colhendo,
cana, café etc., contou o coronel a este senhor, a fundação da sociedade e a
questão da sede própria, e o que pretendiam, enfim o colocou a par de suas
atividades.
Aconteceu, porém, que este senhor de
engenho, muito caridoso que era, lembrou-se que em uma de suas fazendas, havia
uma velha capela abandonada pelos jesuítas, e que pelo seu tamanho e forma
poderia ser útil a sociedade. Assim sendo ofereceu gentilmente ao coronel e
adiantou que poderia usá-la por tempo indeterminado e tudo que nela havia, isto
é, bancos, mesas etc. advertiu também que a igrejinha era mal assombrada devido
ouvir-se no seu interior toques de atabaques.
O coronel de posse dessa gentil e útil
oferta, deu conhecimento aos seus amigos membros da sociedade, e convocou uma
reunião em sua residência. Após a discussão das ordens do dia, explanou que não
podia haver melhor lugar, e resolveram fazer uma visita ao local.
No dia seguinte pela manhã dirigiram-se
para o dito local para verem o prédio. Lá chegando viram o prédio da antiga
capela e se maravilharam com o acontecimento, e imediatamente puseram-se em
ação, verificando o que seria necessário para os reparos.
Enquanto uns varriam, outros consertavam
os bancos lá existentes e arrumavam portas e janelas; estando tudo arrumado
lavaram o chão e esfregaram-no para melhor higiene.
Aconteceu, porém, que em dado momento, um
dos negos que estava a limpar um dos cômodos, encontrou um velho baú coberto de
poeira que mais parecia um bloco de pedra, chama a atenção de todos e conta o
ocorrido ao coronel. Este o examina superficialmente e pensando tratar-se de
uma peça pertencente ao senhor do engenho manda um dos membros da sociedade
entregar o baú.
Mas aconteceu, que quando o negro apanhou
o dito baú pela tampa, esta se abriu, e por espanto de todos olhando dentro
viram muitos objetos embrulhados, que se tratava de estatuetas de santos católicos
que pertenciam a capela.
Entre as estatuetas encontravam-se a de
São Sebastião, São Jorge, Jesus Cristo, São Jerônimo, São João, São Benedito e
outras pinturas também representando santos católicos, mais ao fundo uma Bíblia
Sagrada e outros livros, faixas de missa e toalhas do altar e também um pouco
de incenso, mirra, benjoim e algumas velas e mais o incensário.
Enquanto o coronel tirava os objetos do
baú, os outros olhavam admirados, aconteceu porém que num momento inesperado em
que o coronel retornava os objetos em seu lugar, ao pegar a estatueta de São
Jorge seu padroeiro, esta lhe cai das mãos como por encanto, e o fenômeno, foi,
por ser a estatueta de barro coto não se quebrou, e no mesmo instante o coronel
lembrou-se do dia do candomblé da Rua Santa Tereza, onde havia tido a
pancadaria, e ficou emocionado, chegando às lágrimas, contemplando a imagem de
São Jorge, compreendendo a situação deu um forte suspiro e ficou alegre e
radiante, o que causou admiração aos presentes.
Já era quase noite e prepararam-se para se
retirar, o coronel leva consigo a Bíblia e os outros livros.
Após a meditação e leitura dos livros e da
Bíblia, reuniu os membros da sociedade e conversaram a respeito da sede e de
sua religião; explicou também o ocorrido no candomblé da Rua Santa Tereza,
todos pediram palavra e também contaram acontecimentos que alguns presenciaram.
Em vista dos casos apresentados resolveram
dar novo rumo às suas crenças e religião aqui no Brasil.
Estando a turma na capela limparam o velho
altar, modificaram um pouco seu formato, prepararam-no e colocaram ali todas as
estatuetas que haviam encontrado. Feito isso retiram-se para voltarem no dia
seguinte, para continuarem a tarefa empreendida.
Ao raiar do outro dia, quando as nuvens
brancas já eram visíveis, e já atingidas pelos raios solares, encontraram-se no
pátio da capela os membros da diretoria da União, com mais alguns convidados
chefes de terreiros de candomblés e outros.
Após uma palestra, entraram no recinto e
tomaram assento e cada membro fez o seu sinal no chão com pemba.
Estando todos a postos levantaram-se e
fizerem uma prece e, concluída esta, tomou da palavra o coronel e apresentou a
questão. Meus caros irmãos de fé, neste momento em que estamos reunidos nesta
singela casa, e tendo em vista a perseguição que vem sofrendo nossos
candomblés, e que se reflete em nossa religião, por não conhecerem eles nossos
santos e nossa religião prática. Sugiro que cada um de vós que conheceis nossos
santos e sua história, analisem bem e meditem, para depois fazermos votação
secreta para humildemente darmos aos nossos Orixás os nomes dos santos
católicos, que pela igualdade de vida e sofrimentos, sejam firmados para a
posteridade, aqui no Brasil, e que para os nossos sucessores não venham a
sofrer por motivo de pensarem que adoramos outros deuses. Ouvindo isto todos
murmuraram. Concentraram-se no assunto e cada um escrevia num pedaço de papel,
o nome do santo católico em combinação com o Orixá, e colocavam-no dentro de um
chapéu de palha.
Terminada a votação os negros do conselho,
que era composto de negros Nagôs, Yorubá, Angola, Bantu, iam retirando do
chapéu de palha os votos e entregando-os ao coronel e ao “Senhor de engenho” e
estes iam anotando os resultados.
Terminada essa apuração, ficaram tomados
de espanto em virtude de não haver nenhuma contradição de nomes de um para
outro membro, pois entendia-se que todos estavam imbuídos de um só pensamento.
Os resultados foram os seguintes:
Zambi – Olorun, Tupã – Deus.
Oxalá – Jesus Cristo, filho de Deus.
Ogum – São Jorge.
Xangô – São Jerônimo.
Oxóssi das Matas – São Sebastião.
Ibeji – Cosme e Damião.
Omulu – São Lázaro.
Iansã – Santa Bárbara.
Yemanjá – Nossa Senhora da Conceição.
Oxum – Nossa Senhora da Aparecida.
São João Batista – Oriente.
E mais os arcanjos que não sofreram
alterações e outros que não acharam qualitativo.
Lido o último nome os negros que estavam
como que encantados gritaram viva e bateram palmas. Pedindo a palavra o
coronel, o barulho cessou como se ficassem mudos ao mesmo tempo.
Prosseguindo disse – Meus caros irmãos
agora vamos meditar e pensar bem, pois temos que reorganizar nossos rituais de
cerimônias e os deixamos registrados nesta ata e que só poderá ser lida por
iniciados em nossa seita e nossa União; dito isto todos disseram o apoiado e
levantando-se, retiram-se cumprimentando o coronel e o senhor de engenho.
Enquanto os dias iam passando o coronel
deu a cada novo santo uma posição para que quando na sede da União, as
cerimônias em que baixavam entidades que se diziam se um Orixá, este seria
anotado para pertencer a ordem do Orixá em questão, ou seja:
1a ) Ordem de Oxalá.
2a ) Ordem de Yemanjá.
3a ) Ordem de Ogum.
4a ) Ordem de Oxóssi.
5a ) Ordem de Xangô.
6a ) Ordem de Oriente (São João
Batista).
7a ) Ordem Africana (ou de São
Benedito).
Finda a semana, foi convocada nova reunião
para apurarem os rituais.
O tempo passou União das Bandas desenvolveu-se de tal
maneira, e com o advento de outras leis abolicionistas, em outros estados havia
muitos negros desamparados e criaram-se a filiais com as mesmas finalidades, e
ficou com a alcunha de Uma Banda da União.
Aconteceu, porém, que quando algum
necessitado precisava de auxílio, dirigia-se conforme seu lugar a Uma Banda da
União e lá na maioria dos casos obtinha o conselho ou auxílio.
Quando uma pessoa precisava de auxílio
alguém dizia procure Uma Banda, e lá tu conseguirás o que queres. Em função dos
diversos dialetos as palavras foram corrompidas e a frase UMA BANDA acabou
sendo traduzida como UM-BANDA.
Aconteceu que a palavra Umbanda
(corruptela de Uma-Banda) tornou-se conhecida como centro de convergência da
religião negra e mais tarde com a influência dos brancos nas suas diretorias
ficou mais conhecido como terreiro espiritual de Umbanda, com práticas de culto
espiritual prático, e nela recorrendo pessoas de todas as camadas sociais; como
acontece hoje em nosso dias.
Pois bem caros leitores espero com esta
pequena história ou “lenda” (este julgamento fica a critério dos caros amigos
leitores) pois toda religião tem um princípio e um idealista como acontece com
o Budismo, Cristianismo, Bramanismo etc.
Esta história que escrevi me foi dada por
intuição e algumas palavras por mim ajeitadas, aceitando portanto a crítica que
se fizer quanto a minha interpretação e escrita, e deixo para os entendidos o
julgamento desta matéria.
AFRO
OSWALDO DE OLIVEIRA
(Rosa Branca)
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