Ronaldo Antonio Linares
Diamantino Fernandes Trindade
Existem duas categorias de pontos cantados de Umbanda. Os pontos de raiz são aqueles trazidos diretamente pelas entidades incorporadas ou por meio da intuição dos médiuns. Temos ainda os pontos criados pelos compositores de Umbanda, muito comuns nos festivais de curimbas. Assim também foi composto o Hino da Umbanda.
Os dois tipos de pontos cantados são importantes, pois são ricos em simbologia e podem ser considerados “a trilha sonora de um ritual de Umbanda”.
Ao longo da história diversos artistas gravaram esses pontos. Alguns contribuíram para a divulgação da Umbanda gravando as melodias na íntegra como é o caso de Martinho da Vila com o tradicional ponto de Exu: “O sino da igrejinha”, gravado em 1974, no LP Canta Canta, Minha Gente.
O sino da igrejinha
Faz belém blem blom
Deu meia-noite
O galo já cantou
Seu Tranca Ruas
Que é dono da gira
Oi corre gira
Que Ogum mandou
Noriel Vilela também fez sucesso com uma melodia dedicada a Exu e outra dedicada à Umbanda.
Só o Ôme (Edenal Rodrigues)
Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá
Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá
Suncê compra um garrafa de marafo
Marafo que eu vai dizê o nome
Meia noite suncê na incruziada
Distampa a garrafa e chama o ôme
O galo vai cantá suncê escuta
Rêia tudo no chão que tá na hora
E se guáda noturno vem chegando
Suncê óia pa ele que ele vai andando
Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá
Ah mô fio do jeito que suncê tá
Só o ôme é que pode ti ajudá
Eu estou ensinando isso a suncê
Mas suncê num tem sido muito bão
Tem sido mau fio mau marido
Inda puxa saco di patrão
Fez candonga di cumpanheiro seu
Ele botou feitiço em suncê
Agora só o ôme à meia noite
É que seu caso pode resolvê
Acredito sim (Avarése e Edenal Rodrigues)
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Estive mal de vida, um caboclo me ajudou
Quando estive doente, Preto Velho me curou
Eu cheguei no terreiro à meia noite o galo cantou
Só com três palavras todo mal que eu tinha o vento levou
Levou, levou, levou
Agradeço a Umbanda
A Umbanda me salvou
Levou, levou, levou
Agradeço a Umbanda
A Umbanda me salvou
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Eu acredito sim
Não falem mal da Umbanda perto de mim
Tava desempregado, sem dinheiro pra cômer
Eu não tinha saúde nem remédio pra beber
Hoje tenho emprego, dinheiro, saúde feliz eu estou
Só com três palavras o mau que eu tinha o vento levou
Levou, levou, levou
Agradeço a Umbanda
A Umbanda me salvou
Ronnie Von gravou, em 1972, a melodia “Cavaleiro de Aruanda” (Tony Osanah):
Quem é o cavaleiro que vem lá de Aruanda
É Oxóssi em seu cavalo com seu chapéu de banda
Quem é esse cacique glorioso e guerreiro
Vem montado em seu cavalo descer no meu terreiro
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Ele é filho do verde, ele é filho da mata
Saravá, Nossa Senhora, a sua flecha mata
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Em uma das fitas gravadas por Lilia Ribeiro podemos ouvir Pai Antonio, incorporado em Zélio de Moraes, fazer referência ao famoso cantor e compositor Lamartine Babo, que frequentava a Tenda Nossa Senhora da Piedade e utilizava os pontos de Umbanda para compor marchinhas de carnaval e ganhar dinheiro com as composições:
...depois veio começou a culhambar ele porque panhava as músicas que véio cantava e começou a fazer negócio pra carnaval, pra tudo, isto não tá certo, como dize.
Dize, que isso seu magricela, então você vem pra cá fazer isso? Não, não faça não...
Mas tudo passou, ele já ta cá com nós do outro lado não é isso meu filho?
Outro uso indevido de um ponto cantado de Umbanda aconteceu em 1976 quando Ruy Maurity gravou, com grande sucesso, a música “Nem ouro, nem prata”:
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Samborê, Temba, Folha de Jurema
Oxóssi reina de norte a sul
Sou brasileira faceira
Mestiça, mulata
Não tem ouro nem prata
O samba que sangra do meu coração
Tua menina de cor
Pedaço de bom carinho
Entrei no teu passo, malandro
Eu não sou como a tal Conceição
Chega de tanto exaltar essa tal de saudade
Meu caboclo moreno, mulato
Amuleto do nosso Brasil
Olha, meu preto bonito
Te quero, prometo, te gosto
Pra sempre do samba-canção
Ao primeiro apito do ano 2000
Esta música, na verdade, é uma adaptação do ponto do Caboclo Aracaty:
Eu vi chover, eu vi relampear
Mas mesmo assim o céu estava azul
Firmei meu ponto na folha da jurema
Eu sou Caboclo Aracaty
Da mesma forma que Pai Antonio condenou a utilização de pontos cantados para fins comerciais por parte de Lamartine Babo, nós consideramos esta gravação de Ruy Maurity um uso indevido de algo que é sagrado para os umbandistas.
Texto do livro Memórias da Umbanda do Brasil, de Ronaldo Antonio Linares e Diamantino Fernandes Trindade que será publicado, em fevereiro de 2011, pela Icone Editora.
sábado, 6 de novembro de 2010
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Um comentário:
Mestre Diamantino, sou sua aluna lá na Federação... adorei o texto e seus comentários, pois, por estes dias, recebi alguns e-mails de irmãos de Umbanda, considerados em nosso meio, os quais estavam divulgando com "certa propriedade" que uma tradicional música de samba, seria de hoje em diante, a música oficial da linha dos malandros, especificamente do Sr. Zé Pelintra...
Porém, refletindo sobre este assunto, mandei um e-mail para os mesmos, questionando que Ogãs renomados se posicionassem sobre este tema, uma vez que a Umbanda têm fundamento. Percebo que querem tornar o profano sagrado e todos devem acatar, ainda citei, que será possível, com tal jurisprudência, que a música "Ilariê" se torne a oficial da linha dos erês (rs).
Torço para que chegue logo este livro... precisamos de esclarecimento para as nossas mentes! Abraços de Fé! Ana Paula
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